CRÍTICA ACRISIA I

TEXTO

José Eduardo de Oliveira*

I Parte

De cima de meus míseros 49 inveros recebi talvez a mais terrível tarefa até hoje: fazer uma “crítica” ao Pedras Urbanas de Cátia de Castro Dias. E o pior de tudo a tarefa me foi imposta por ela mesma numa tarde de 22 de setembro de 2003 ( Início da primavera, mas é prima/verão que promete os remoinhos que em agosto apenas ensaiaram). Numa praça na encruzilhada imperfeita/infinita do Bairro Lagoinha com o Guanabara: subúrbio: espaços de suas “pedras urbanas”. Logo abaixo ao cair da tarde uma escola o que lembra muito bem a palavra esmola… E lá embaixo o esgoto dessa parte da cidade molha e polui as pedras rurais da última fronteira do oeste e cai no rio, outrora, Rio Paranaíba.

Pela última vez: não sou crítico literário. Em tempo: não sou crítico de arte. Dizem que os críticos são míseros artistas frustrados. Então eu sou! Principalmente depois da segunda dose e da segunda cerveja. Muitas vezes também somos o que querem que sejamos. Oh! Como inicio isso de forma tão banal…

Farei uma “crítica construtiva” bem escolar? Uma “crítica destrutiva” de despeito? Nada tão simples. (Advertência número um: não me leve a sério – como se fosse necessário escrever isso…)

Antes Cátia, já havia lido Engodo dos dizeres e Pedras ensolaradas. Emudeci diante daquelas palavras encadeadas em poemas. Dizem que poesia é para ser lida, relida, sentida, vivida. E partindo daí, sonhar, agir, viajar, odiar, amar, usar e abusar. Sei lá o que. Mas a poesia de Cátia, desculpe o trocadilho é cativante. É como beber uma aguardente, tem que ser de um gole só, não dá para cortar a talagada. ( e não precisa de tira gosto. E de imediato a embriaguez e a náusea aparecem. suas palavras gravadas no papel dão porre e ressaca. Estados anímicos exultantes e depressivos. A realidade é assim mesmo. As pedras machucam. Nosso sapato. As que recebemos por nossos pecados. As que não atiramos por que somos pecadores. As que arrancaram a cabeça de nosso dedão do pé. As que construímos nossas frágeis casas. As do “meio do caminho”. As pedras que mataram rolinhas lá na Capelinha do Chumbo quando eu era criança. As pedras de diamantes que não tiramos do rio Areado. As pedras do feijão que trincaram o dente no almoço de carne-de-segunda. Pedras. “No caminho dessa cidade , uma cidade pedra” (Milton Nascimento?). Pedras Ensolaradas. Ainda que seja de noite. As pedras estão ali. As pedras sempre estarão ali. Para o bem ou para o mal. Mas as pedras de Cátia são pedras angulares que não podemos dispensar de nossa pálida construção social. intelectual, moral (Moral?). Outro dia mesmo falei para uma jovem senhora sobre um tipo de pedra que algumas pessoas são: a pirita ou ouro-dos-tolos. Pedras gosmentas que alguns de nós são. Pedras que têm um falso brilho ( Como eu – que inclusive fiquei um pouco lisonjeado e muito envaidecido de ter sido citado em dois de seus livros. E repito aquele professor já era! Hoje encaro que era apenas uma pedrinha de pirita, já esmaecida por traições e devaneios imbecis…) Pedras que flutuam na superfície das águas paradas das veredas. E os políticos são pedra sabão (esteatita) moldáveis em qualquer coisa mas não lavam nada, muito pelo contrário sujam tudo. Pedras que possuem Engodo dos dizeres. As pedras de Cátia não são essas. Mas podem ser! Quais são?

Antigamente as pedras eram usadas, pelos romanos e pelos incas para tornar seguros e mais confortáveis os caminhos intermináveis dos seus ignotos impérios. Hoje as pedras ensolaradas e urbanas são argamassas dos impérios. O que mudou? Cátia o que mudou? As pedras olham? As pedras terão consciência? As pedras se revoltarão? É isso que nos mostra?

As pedras de Cátia estão expostas e nos expõe. Pedras aduelas que sustentam nossos sonhos minerais e nossa ganância infinita. Nossos medos e nossas tênues esperanças. Pedrinhas escondidas…

*Possui Licenciatura em História pela Universidade Federal de Ouro Preto (1986) e Especialização em História do Brasil pela Universidade do Estado de Minas Gerais UEMG – FEPAM Fundação Educacional de Patos de Minas-MG (1998-1999).

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