Cátia de Castro Dias – Livro Infantil – ISBN 978-85-464-0171-0
A infância com seus laços e encantos…
O livro Laços e Encantos conduz os pequenos leitores pelas histórias infantis repletas de magia. Na primeira página assistimos ao encanto da Joaninha Joana que nos envolve com sua vaidade. Depois a vida do João, o Gato Bobão, que sonha em levar a sua doce namorada para Hollywood e torná-la a gata de estimação de Angelina Jolie. E enquanto isso, ele vai revirando algumas latas em busca de alimento. Na noite escura João, o Gato Bobão sonha e encanta seus leitores.
E em outras páginas nos deparamos com a história do pato Estalo, que, depois de seu romântico casamento no lago da Pampulha, arruma um emprego no interior de Minas Gerais, na cidade dos Patos, Patos de Minas. Lá enfrenta algumas dificuldades devido à gestão de um prefeito chamado Pedro Malucão. E no final, a cidade encantada das Colmeias vê-se ameaça pelas ondas de ratos que proliferam nos campos.
Laços e Encantos mostra a genialidade de seus personagens no enfrentamento de seus problemas e no encanto de suas esperanças.
E a cada página um sonho, cheio de laços e encantos…
Apreciem!
JOANINHA JOANA
Sábado começa,
Joaninha no salão espera,
Arrumam-lhe o cabelo,
Maquiam suas pintas,
Colorem suas unhas,
Lavam suas asas,
Jogam brilho em seu voo.
E lá vai a Joaninha Joana,
Estonteante, elegante, ofegante.
Ela é toda chique,
Estica as asas, mexe suas pintas.
Sacode a bolsa,
Anda de salto doze,
Nunca esquece um batom,
Um pó, um rímel,
Um pólen, nenhum dólar.
Joaninha é chique de fazer dó.
Seu colar é de safira, brilha,
Sua pulseira é toda dourada,
E combina com sua maquiagem e
Seu vestido de laço enroscado em seu sapato.
Mas como é chique Joaninha Joana,
Que não larga sua sombrinha
E seu picolé de groselha.
De repente o vento arremessa joaninha
Para longe, ela cai com a asinha estendida,
Vira o olhinho e pede ajuda.
Algumas pintinhas ficaram descoradas,
Seu vestido quebrou o laço,
Sua pulseira ficou prateada
E seu colar ficou todo virado.
Lá vai de novo Joaninha Joana
De volta ao salão
Preencher novamente suas pintinhas,
Seu esmalte quebrado,
Seu voo desconcertado.
Mas Joaninha Joana é chique de doer,
Nem o vento, nem o dólar desvalorizado
E seu laço amassado tiram o brilho
De Joaninha Joana, de passarela,
Modelo de grife de brilho de butique.
É chique, é moderna, é esbelta
A Joaninha Joana que encanta…
JOÃO, O GATO BOBÃO
Lá vai o gato João, todo bobão,
se achando esperto, todo belo,
Enrolado em suas patas descobertas
de unhas pontiagudas, profundas.
Dá um pulo, cai lá no fundo,
Subindo o muro, dá um murmúrio
De gato de subúrbio,
Sente um cheiro e corre desajeitado,
Vira de lado, dá logo um rosnado.
Revira a lata, experimenta um assado,
Pega uma pizza de calabresa e acha uma beleza.
Já está todo gordo, soltando gases,
Espasmos, e acaba ficando parado
Com os olhos virados, todo hipnotizado.
Logo que melhora de seu apetite de tigre,
Vai dar um passeio noturno por cima do muro.
Decide subir o telhado com cara de quem não quer nada,
Encontra uma gata e solta uma piada sem graça.
Meio assustada, a gata fica toda arrepiada e brava.
João nem liga e vai procurar outro telhado.
Pula em um quintal e vai subindo pelo varal.
Revira outro lixo e se cobre todo de carrapicho.
João se atrapalha, contorce, fica miando…
Sai caladinho, chorando de fininho,
Mas é um bobão esse João.
De gato assustado a todo atrapalhado
Fica se achando um esperto, um malandro
Que num rosnado se acha todo sarado.
No sábado o gato João se arruma,
Lambe por horas suas patas para ver a sua gata,
A atraente e bela Dolores, que canta e encanta
Na boate do gato malhado.
Dolores é uma gata velha, toda banguela,
Que serve peixe e latinhas de sardinhas
Na boate do gato malhado, e nas horas vagas
Fica cantando, miando no palco malhado.
João Bobão acha Dolores uma estrela.
Seu sonho é levá-la para Hollywood
E comerem juntos fast-food ao som de latas
reviradas. Casariam em um beco escuro,
como num filme de Quentin Tarantino.
Dolores seria a gata de estimação de Angelina Jolie,
e João Bobão o melhor amigo de Batman e Robin.
E nas noites escuras, salvariam Gotham City
dos grandes crimes, uau, miau, seria aterrorizante.
De repente um arroto, João Bobão acorda,
E junto com Dolores vão passear na noite estrelada.
Apesar de bobão, João é um gato muito feliz.
O MORCEGO SEM DENTE
No fim do mês de setembro, lá vai o morcego sem dente
Atrás de uma vítima, se prepara, ataca, morde e nada.
O pobre cachorrinho pensou que era um passarinho,
Dando-lhe um pequeno beijo, e sem graça
Foi-se embora o morcego sem dente
De cabeça baixa, de voo baixo, com a barriga vazia.
Foi para uma mata todo solitário, desacreditado.
Em cima de uma pedra ficou a chorar.
A Lagarta que passava nem acreditava.
– O que foi, senhor Morcego?
-Está doente? Perdido?
-Não! – E soluçava e esticava suas asas.
-Ah, e agora, o que vou fazer?, dizia o Morcego.
A Lagarta sem entender nada foi-se embora.
De repente chegou o tamanduá chupando formigas,
E com a boca ainda formigando, disse de longe:
– Como vai, senhor Morcego? O que lhe aflige?
Novamente o Morcego sem dente chorava.
Fez uma cara de mal para assustar o tamanduá.
– Ráááá, disse o Morcego.
O tamanduá começou a rir até fazer xixi.
– Pobre Morcego, não tem dente, não tem cabimento!
– Nunca mais vai chupar sangue nem gente!
E de novo o pobre morcego sem dente começou a chorar.
O tamanduá ficou sensibilizado, preocupado.
Foi mais que depressa buscar amoras doces e vermelhas
Para o senhor Morcego sem nenhum dente.
– Aqui está, meu amigo Morcego, são amoras!
– De tão vermelhas mais parecem um vinho suave!
– Experimenta, seu Morcego, nem vai precisar de dente!
E todo constrangido e triste, lá foi o morcego chupar uma amora.
Que espanto! Com a boca toda vermelha, e todo sorridente sem dente,
Seu Morcego foi logo agradecer seu amigo Tamanduá. Agora estava salvo,
Sem dente, e todo a sorrir, voou para bem longe a contar sua história
De vida de mamífero sem dente. Agora estava um moço sorridente.
Sem poder morder, passou a viver de amoras silvestres
E assim conseguiu viver feliz sem ser solitário, de morcego sem dente,
Mas todo sorridente.
O SAPO QUE NÃO ERA PRÍNCIPE
No meio do lago vivia um sapo. Fazia coaxo dando saltos. De pernas encurvadas, com língua afiada, comia mosquito, até periquito. Gostava de fazer nada. Passava o dia na sombra do brejo. Sobre as plantas aquáticas flutuava. Quando a noite chegava, ficava dando coaxos cada vez mais altos. Era assustador. Ninguém tinha coragem de ir até aquele brejo. Parecia uma orquestra de coaxos.
Os outros sapos trabalhavam, colhiam mosquitos, baratas, mariposas, frutas secas e faziam ensopados e se alimentavam. O sapo que não era príncipe não ajudava, não fazia nada. Pegava o resto do ensopado e se lambuzava.
Quando cansava de não fazer nada, arredondava sua barriga para cima tomando banho de sol. E depois calmamente ia se refrescar no brejo e soltar um longo coooooaxo. O sapo não era príncipe, mas vivia como se fosse um rei.
Os sapos estavam desanimados. Como tirar a coroa daquele sapo que não era príncipe? Como fazê-lo trabalhar? Colher mosquitos? Limpar o brejo? Picar os mosquitos para a sopa?
Pensaram, pensaram, trocaram coaxos e nada. O sapo que não era príncipe vivia como um rei. Como tirar sua coroa?
O sapo mais velho, disse então aos seus companheiros do brejo:
– Amanhã de manhã vamos acordar e não falar nada!
– Ninguém vai deixar nenhum mosquito vivo para o sapo que não é príncipe se alimentar! Nada de sopa! De risoto de lodo!
O velho sapo ainda disse:
– Não vamos dizer nenhum coaxo!
E assim foi. O dia surgiu. Os mosquitos sumiram. Não se ouvia coaxo no brejo. Apenas o barulho do vento trazendo uma vontade de não fazer nada. Mas a fome do sapo que não era príncipe foi aumentando, já não tinha forças para nem mesmo coaxar. Procurou inutilmente um resto de ensopado, e nada.
Mas parecia feriado no brejo dos sapos. Pobre do sapo que não era príncipe, agora sonhava em ser um. Como ele queria ter um servo a lhe preparar um banquete.
E bem baixinho dizia em pequenos coaxinhos.
-Ai que brejo solitário! Ai, ai, minha barriga já nem é mais arredondada, sem mosquito, só sobraram minhas pernas para ir caçar a mosquitada.
E lá foi o sapo que não era príncipe, procurar um trabalho em outros brejos, cheio de coaxos e mosquitos desgovernados que voassem em bando. E assim com sua língua poderia se alimentar, desde que usasse suas pernas compridas e finas, e ficasse a saltar e capturar todos os insetos que lhe rondassem. E assim foi a procura de um brejo.
Estava tão triste, tão mocho, cheio de desgosto. E dizia:
– Ai! Que saudade da noite de luar, cheio de coaxos e insetos a me sobrevoar.
E foi andando o pobre sapo, estava longe de ser príncipe. Não tinha manta, nem coroa, nem servo, nem ensopado, nem nada.
E andando foi o sapo. Arrastando suas pernas finas e compridas. Estava com tanta sede. E logo foi se aproximando de outro brejo. Este não tinha mosquitos iguais aos do outro brejo. Apenas moscas imensas e barulhentas.
– Ai que saudades do outro brejo, de minha sopa de lodo, da minha barriga toda arredondada tomando sol.
E logo comeu duas moscas azuladas imensas, sua barriga começou a se contorcer, e ele começou a coaxar imediatamente.
– Ai que mal-estar!
– Que dor de barriga eu vou ter!
Não tinha nenhum outro sapo naquele brejo. Próximo a ele uma indústria de laticínios jogava todos os seus resíduos naquele brejo. Era um mau cheiro de fazer enjoar sapos.
E lá foi novamente o sapo que não era príncipe procurar um brejo descente para morar, viver, constituir família, sapinhos, fazer mamadeiras de mosquitos, playground de vitória-régia etc…
E sonhava. Meu brejo, minha vida. Agora ia tomar jeito, procurar um projeto do governo. Um pró-água, pró-família, pró-energia, pró-mosquito. Seria feliz, compraria uma coroa, comeria apenas churrasco de mosquito.
Foi logo se animando. Começou a saltitar, coaxar, falar que nem presidente. De repente. Esplêndido! De longe já se ouvia a canção, as asas dos mosquitos faziam a melodia, e a nota mais grave os sapos emitiam com seus coalhos. O brejo era todo verde de águas turvas.
Então, foi logo se aproximado do brejo e se anunciando. Estava vindo de um reino longe, que sapos bárbaros invadiram, expulsando a todos do seu brejo. Roubaram sua coroa de príncipe. E teve que se esconder por três noites para se salvar. Estava exausto, mas a salvo.
O novo brejo do sapo que não era príncipe logo ficou comovido. Todos os novos sapos ficaram emocionados com a linda história daquele sapo que perdeu sua coroa, seu reino, seu brejo, seus servos. E mais do que depressa trouxeram um farto banquete de mosquitos e lhe serviram.
Como o brejo não tinha nenhum príncipe, então, fabricaram uma linda coroa para o novo sapo. E o convidaram para ser o novo príncipe daquele brejo. E assim viveu seus dias de sapo príncipe, de barrigada arredondada tomando sol, comendo ensopado sem fazer nada. E foi feliz para sempre o sapo que não era príncipe.
O PATO ESTALO
O pato Estalo levou um susto,
Deu um salto para o lado do assoalho
Do seu Teobaldo do bico virado.
O pato Estalo está de casamento
Marcado no mês de maio
No lago da Pampulha.
Prometeu fazer uma borbulha
No lago depois que mergulhasse
De bico empinado.
O ganso Ofegante celebrou o casamento
Do momento. Estela e Estalo
Em lua de mel no lago das Garças
quá, quá, resolveram viver numa linda cidade.
Arrumou um trabalho na Lagoa de Patos de Minas,
Pescou um peixe, pescou uma pipoca, abriu as asas, nada,
Mergulhou, e de repente a Lagoa estava seca.
Era governo de Pedro Malucão,
Triste momento, triste lagoa,
Sem peixes, cheia de esgoto,
Igual ao governo do prefeito
Cheio de mentiras e ironias.
Estalo já não era mais o mesmo.
Sem lagoa para se movimentar,
A sua grande pata de pato estava dolorida.
E formou-se um papo no seu bico de pato.
Foi ao médico, tomou um remédio.
Estela ficou toda contente pelo seu tratamento.
Buscou milho no armazém do seu Pato,
Fez uma sopa e molhou o bico de Estalo,
Que ficou revoltado.
Voltou de novo para o trabalho,
Mal-humorado, ficou o dia esticado.
O prefeito aumentou a jornada de trabalho
E no lago, sem fazer nada,
Voltou para casa todo arrependido,
Cheio de mordida de mosquito.
Levou Estela para ver as estrelas,
No lago sem água cantou quá, quá.
Resolveram fazer uma grande viagem
E viveram felizes para sempre.
Estela e Estalo voaram pelo mundo,
Visitando todas as lagoas,
Represas, rios de corredeiras,
Pântanos de jacaré.
Viveram mergulhando, nadando,
Dando gargalhadas, estalos,
Soltando quá, quá, pra lá e pra cá.
E nunca mais voltaram à cidade
Do prefeito enganador,
Que mantinha um lago sem água,
Com aumento de jornadas,
Sem direito de questionamento
E nem mesmo licença.
Estela e Estalo foram viajar sem destino.
Gostaram muito da cidade de Patos de Minas,
Mas não puderam ficar devido à gestão do falastrão.
Felizes por terem vencidos seus problemas,
Buscando outros lagos, outras moradas,
E depois que o prefeito saísse para sempre,
Eles iriam retornar para a singela e doce cidade
Cheia de Patos e lagos maravilhosos.
E Estalo iria novamente trabalhar na lagoa
Cheia de peixes e pipocas
E nunca mais iria adoecer
Ou entristecer.
Nada como o tempo para desvendar as trapaças
E os maus momentos do povo que elege governantes
Mentirosos e irresponsáveis com a vida alheia.
Estela e Estalo iriam retornar depois que o mau
Morresse e as chuvas abundassem novamente
A cidade que outro dia abrigou lindos lagos,
Com seus patos e seus encantos.
O BARQUINHO FLUTUANTE
Ana gostava de brincar com água, fazia balões que nunca afundavam. Flores que mergulhavam junto com peixinhos imaginários. Todo dia que fazia calor Ana enchia sua piscina de água e brincava. Batia os pés na água, molhava o cabelo, dava banho em suas bonecas.
Mas um dia ela aprendeu a fazer barquinhos de papel. Foram muitas tentativas, até que um dia ensolarado, em um papel branco surgiu um barquinho flutuante que no meio da água nadava de um lado para o outro.
O barquinho flutuante e Ana se tornaram grandes amigos. Ana ficava horas e horas dentro da água e o barquinho flutuante nunca se afundava. Os dois amigos estavam sempre juntos, balançando perto das ondas, e os ventos conduziam mansamente as velas de papel do barquinho flutuante.
Porém, um belo dia de sol, o barquinho navegava com dificuldades, tombava de um lado para o outro, tentando se levantar. Ah, pobrezinho do barquinho flutuante, veio uma onda gigante e molhou toda a sua vela de papel. Barquinho flutuante não mais conseguia se levantar.
Começou a se molhar até ficar pesado, cansado e, então, ficou deitado sobre as ondas. Ana foi logo lhe socorrer, porém era muito tarde. Ana ficou tão triste que deixou Barquinho Flutuante sozinho no meio da piscina. Depois ela abriu a passagem da água e o deixou molhando a grama. E o Barquinho flutuante ficou deitado enquanto a água ia embora. Veio a noite e ele ficou lá sozinho. Estava com frio e solitário lá no fundo da piscina.
O dia amanheceu e o sol começou a esquentar a vela de papel de Barquinho Flutuante, e ele começou a sorrir e abriu os olhos.
Era tanta alegria que ele queria navegar, flutuar de onda em onda. À tarde Ana foi pegar uma boneca que ela havia esquecido lá no fundo da piscina, e quando ela chegou perto, para sua surpresa, Barquinho flutuante estava todo seco, branquinho. Ana ficou tão alegre que encheu novamente a piscina e colocou-o novamente sobre a água. E desta vez Ana tomou muito cuidado para não fazer ondas gigantes para que não molhassem Barquinho flutuante.
O ANEL DE LIA
Todo dia Lia desenhava arco-íris, borboletas felizes, cogumelos pintados, árvores recheadas. Lagos com patos amarelos de pernas compridas, de bicos finos, gigantes.
Mas o seu sonho mesmo era ganhar um anel que coubesse em seu dedinho. Sua tia Esmeralda tinha lindos anéis de pedras robustas, quadriculadas, arredondadas, que refletiam o sol, a luz da cor do dia.
Lia brincava com todos os anéis de Esmeralda, alguns eram mágicos, mudavam de cor, escorregavam pelos dedos, hipnotizavam os olhos, mostravam luzes reluzentes e até fantasmas escondidos.
Mas um dia Lia perdeu um dos anéis de Esmeralda. Ficou com tanto medo que se escondeu. E ela nunca mais sorriu, nem riu. E não mais se ouviu a sua voz. Lia desapareceu no meio da luz que hipnotizava os olhos. Pela manhã Esmeralda achou uma linda pedra quadriculada que brilhava quando alguém ria e o sol lhe refletia. Pensou logo em Lia, mandou fazer rapidamente um anel do tamanho de seu dedo.
Mas, sem Lia, o anel começou a ficar sem brilho, e Esmeralda o deixou no fundo de sua caixinha sem luz. O anel foi se apagando, sumindo. Um dia Esmeralda se lembrou do anel de pedrinha quadriculada que havia deixado no fundo de sua caixinha. Começou a procurar, olhava um anel, outro, mas não achava o anel que tinha feito para Lia.
De repente Esmeralda começou a ouvir um barulho, depois uma gargalhada, e começou a andar em direção à sala. Foi quando começou a surgir uma luz. Um grande brilho começou a vir em sua direção e foi ficando mais perto, até iluminar toda a sala.
Era Lia com seu anel que brilhava sobre a luz do dia. E então, Lia e Esmeralda começaram a sorrir, a rir tão alto que o sol brilhava mais forte e intenso. O anel de Lia cabia no seu dedinho direitinho e brilhava imensamente. Pois aquele era o anel de Lia…
O MENINO DE VENTO
Assim que amanhecia o dia, Rafael da Silva levantava-se rapidamente de sua cama, descia as escadas de sua casa meio sonolento, com bafo de enchente, cabelos arrepiados feito serpentes, e lá do alto da escada gritava sua mãe.
– Mãããããe, cadê você?
Sentava-se na escada como se fosse dormir novamente.
Sua mãe, Dona Rosa, devagarinho respondia:
– Bom dia, Rafael, vai escovar os dentes, pentear os cabelos.
Rafael voltava para trás e cuidava de sua aparência. Nem esperava sua mãe lhe arrumar o café e já ia para o terreiro correr atrás de seu cachorro Furacão. Amarra-lhe uma coleira e saía cortando o vento, pulando, correndo, ziguezagueando, zombando.
Sua mãe Rosa apenas ficava da cozinha olhando aquele menino que mais parecia o próprio vento que lhe acariciava a alma, os olhos, o coração amoroso, afetuoso de um dia que surgia.
Rafael gostava de correr com Furacão no meio da grama, pular os gravetos, colocar comida em sua vasilha, brincava horas do dia até que Dona Rosa gritava da varanda para tomar o café gostoso do dia.
Rafael corria, ziguezagueava, pulava, amava o começo do dia.
JURUBEBA, A CACHORRINHA ESPERTA
De manhã já está correndo, pulando, saltitando,
A Jurubeba, cachorrinha esperta,
Vive no meio do gramado, esparramada.
Logo que seus donos saem de casa,
Lá vai ela rasgar a almofada,
Derrubar o lixo, morder as bonecas.
Mas não demora muito seus donos chegam,
E toda sem graça, Jurubeba esconde,
Se atrapalha no canto, e um castigo logo lhe arranjam.
Fica chorando, gemendo, latindo fininho.
Mas Jurubeba é esperta, fica fazendo carinha de dó,
Seus donos não aguentam e vão fazendo um carinho.
Jurubeba num instante vai brincar.
Ela é esperta, cachorrinha danada,
Ninguém consegue resistir a sua carinha
De cachorrinha esperta.
Jurubeba é mesmo uma festa.
A VOVÓ ODETE
Cecília tinha uma vovó que ela visitava todo dia,
A vovó Odete fazia doces, roscas enroladinhas,
Bolos confeitados, tudo combinado.
Vovó Odete amava sua neta, elas faziam uma festa,
E as duas estavam sempre alegres.
Um dia Cecília foi ajudar sua vovó a cozinhar.
Pegou suas panelas e logo picou o repolho,
Depois o quiabo babado e por último o espinafre.
Acrescentou vinagre, alface e tomate.
Fez suco de acerola com granola,
Arrumou a mesa, enfeitou de um lado,
Esticou a toalha, trocou os copos,
E junto com sua vovó Odete,
Fizeram uma deliciosa omelete.
Almoçaram e depois foram tirar um cochilo.
Nem tinha acabado o dia e vovó Odete
Foi logo trazer um presente para a Cecília.
Ela ficou tão contente que chorou de repente.
As duas se amavam num encanto mágico da vida.
A BORBOLETA ANAUÍZE
Em um lindo jardim vivia Anauíze, a borboleta mais bela
do jardim da floresta. Anauíze flutuava entre as flores
Todas de muitas cores e de muitas pétalas esbeltas.
Eram flores muito charmosas:
Havia a margarida toda tímida,
A bromélia toda esperta que causava inveja
E a orquídea toda cheia de meiguice
Anauíze conhecida todas as flores da floresta.
Próximo ao rio tinha o Lírio todo cheio de brilho.
Sua amiga avenca, que vivia em apuros,
E o jasmim que fica próximo ao capim dourado.
Mas a borboleta Anauíze gostava de conversar
Era com a Dona Soraia Samambaia,
Que gostava de ficar no tronco do Sr. Mangabeira.
Todos os dias a borboleta Anauíze ia visitar suas flores
E depois, quando no final do dia ia procurar a Dona Soraia Samambaia,
Anauíze vivia triste. Sua irmã mais nova tinha arrumado um namorado,
E Anauíze vivia só, pousando, flutuando de flor em flor,
Sonhando com seu príncipe encantado, um Bortoleto corajoso,
Destemido que voasse com ela todos os dias na floresta…
Anauíze tinha lindas asas amarelas, com pintinhas brancas.
Ela era toda delicada, charmosa e vaidosa.
Numa manhã cheia de brisa, Anauíze voava perto de suas flores,
De repente surgiu um pássaro traiçoeiro
e começou a correr tentando alcançar a pobrezinha.
Ela corria, corria por entre a floresta,
Esbarrou-se de repente num espinho arranhando sua asa.
Mas mesmo assim continuou, e o pássaro com seu grande bico
tentava pegar Anauíze. Num instante alguém lhe puxou para baixo,
caíram em cima do senhor girassol todo amarelo imponente.
A borboleta Anauíze olhou para o lado e viu um lindo jovem
de asas amarelas, de cor dourada e de pintas brancas,
Igual a ela. Nesse instante Anauíze se apaixonou
pelo Bortoleto Ângelo cheio de encanto…
Todo ofegante o Bortoleto Ângelo, perguntou a Anauíze:
– Querida borboletinha, você se machucou?
E com um suspiro, toda romântica, Anauíze respondeu:
– Não, meu querido, pois você me salvou daquele pássaro malvado.
A floresta ficou em festa. Anauíze e Ângelo logo foram se casando.
Arrumando uma casa na casca do Sr. Mangabeira, sendo vizinhos
De Dona Soraia Samambaia, que todos os dias abria suas folhas,
Fazendo grandes sombras e escondendo sua casinha dos grandes pássaros.
Logo na primavera uma grande novidade surgiu,
um casulo se abriu, era a filhinha de Ângelo e Anauíze
que tentava tirar suas asinhas de dentro do casulo.
Era mais uma linda borboletinha que surgia na floresta
das flores, cheias de cores, que encantavam a todos.
E foram felizes para sempre…
O SAPATO DE SALTO ALTO
O sapato de salto alto de minha mãe parece um prédio cheio de escadas.
Gosto de calçá-lo quando ela não vê e fico me equilibrando, sonhando.
Penso que posso pegar uma estrela, uma laranja no pé de laranjeira.
Às vezes penso que sou grande, adulta, moça bonita, então, procuro um batom, passo um pó de ruge no rosto.
Fico esbelta, cuido de minha estética, procuro uma bolsa
Que combine com o sapato de salto alto de minha mãe.
Como é bom ser feliz, usar salto alto e ser chique, querida,
Toda bonita, elegante e sorridente.
Sou igual a minha mãe, fina e elegante.
Querida e chique, não sou mesmo?
De salto alto podemos tudo.
A vida se transforma, desabrocha, encanta.
O corredor de minha casa vira passarela, e no espelho,
Enxergo uma multidão me olhando, coloco todas as minhas
Bonecas na cama para me darem nota de modelo de passarela.
Ai, como sou bela de sapato alto.
O sapato alto de minha mãe conta histórias, memórias
De uma infância querida, sem preocupações,
De corrida de meninada, de brincadeiras em cima das árvores,
De pegar a concha do coqueiro e fazer prancha de surf
sobre a grama, deslizar e ultrapassar as horas,
Ver o fim do dia chegar, anoitecer, contar estrelas
No céu imenso sem prédios, casas para atrapalhar,
De menina descalça correndo o mundo no quintal
de casa, sonhando ser atriz, cantora de rádio.
Nem mesmo sabia ler, mas queria um salto alto.
Fui crescendo, lendo, escrevendo, e cada vez mais sonhando…
O salto alto ficou na minha infância,
Hoje ando de rasteirinha, sandalinhas, de pé descalço,
Depois do trabalho, de pernas esticadas para o alto
No momento do descanso.
Mas quando vou a uma festa, calço um sapato de salto alto,
E então, retorno a minha infância, no quarto de minha mãe,
De penteadeira cheia de produtos de beleza,
Pinças para fazer a sobrancelha, cremes para o rosto,
Pó para colorir a vida e no armário o salto alto.
Sou mesmo feliz, porque sempre fui feliz…
PAÇOCA
Paçoca de doce não engorda.
Não tem quem não gosta.
Quem nunca se engasgou?
Paçoca esfarela na boca,
Adoça a vida depois do almoço,
Todo mundo faz gosto.
Comi paçoca no final do ano
Na casa de minha avó materna.
Era bolo, rosca e lá estava
A danada da paçoca.
Apaixonei-me instantaneamente.
Nas prateleiras do supermercado
Ficava agora procurando, sondando.
Cadê?
– Pai, não tem paçoca?
– No outro corredor, filha!
Lá vou eu atrás de minha paçoca!
Embrulhada na embalagem.
Eu acho, pego, abraço, não largo.
Levo para casa e guardo em lugar seguro.
Sei que depois eu vou ganhar uma,
Não! Duas ou três.
– Mãe! Quero mais uma. Por favor!
– Ah, meu Deus, essa menina vive de paçoca!
Fui crescendo me acostumando com vida.
Fiquei triste algumas vezes.
Em outros momentos comemorei.
Depois casei, ganhei uma menina linda,
Que agora está experimentando paçoca.
Ela nem sabe se vai gostar, mas eu sei.
E você? Acha que ela vai comer quantas?
A vida às vezes tem cara de paçoca,
Esfarela por entre nossos dedos,
Adoça nossos momentos.
Às vezes engordados, tropeçamos,
Cantamos e de vez em quando, engasgamos
Quando comemos apressadamente
Aquilo que nós amamos, paçoca doce,
Que não engorda e não tem quem não gosta.
O BOSQUE DAS FLORES
Num bosque encantado lá no fundo da floresta, moravam muitas flores que viviam juntinhas, escondidinhas dos perigos e dos grandes animais que poderiam pisar em suas lindas pétalas. Eram flores muito belas, cheias de fragrâncias e de encantos….
Lá no bosque tinha o Senhor Jacinto que estava sempre triste. Tinha a Rosa Azul que era um verdadeiro mistério, ninguém sabia de sua vida, acordava maquiada, a tarde se fechava e a noite desaparecia que ninguém via.
A Rosa Azul era prima da Tulipa, que vivia esperançosa, aguardando um grande amor que aparecesse no bosque e lhe encantasse seu coração apaixonado.
O jasmim amarelo era pura bondade, gostava de todas as flores, mas tinha um amor imenso que não revelava para ninguém. Porém, quando a Margarida toda inocente passava, seu coração disparava.
Margarida também gostava de Jasmim, enfeitava todas as suas pétalas de branco para atrair o olhar de seu amado. Toda delicada e meiga, Margarida passava as manhas próxima à relva de seu querido Jasmim.
Mas, como sempre tinha uma pétala de Magnólia, próximo a Jasmim, Margarida nunca se aproximava, pensando que ele gostava de outra flor que não fosse ela.
E o pobre Jasmim não conseguia se aproximar do seu grande amor, era tão tímido e bondoso que não conseguia nem dizer bom dia, para sua amada Margarida.
Já a querida e malvada flor Magnólia, essa era pura simpatia, e vivia deixando cair uma pétala na relva de Jasmim. Porém, Magnólia não gostava da Margarida, pois ela queria o amor de Jasmim só para ela.
A Tulipa, percebendo a maldade de Magnólia, procurou desesperada ajuda da sua amiga Violeta, que era leal a todas as flores. Violeta ficou preocupada com seu amigo Jasmim e foi logo procurar outra ajuda.
A leal Violeta foi correndo em busca dos três irmãos guardiões do bosque encantado. Eles estavam sempre atentos a algum mal que se aproximasse de tal bosque. Os três companheiros e irmãos guardiões do bosque eram o Lírio, conhecido por trazer sorte a todos; o seu irmão Lótus, que protegia todos os amores; e o último e mais poderoso de todos: o Lisianto.
Os três irmãos procuraram sua mãe para pedirem orientações sobre o amor de Jasmim e Margarida, e sobre como poderiam deter a maldade de Magnólia. A mãe dos três irmãos era a Senhora Lavanda, que já estava desconfiada de Magnólia. Ela também ficou apreensiva com a maldade que Magnólia poderia fazer à inocente Margarida.
Lavanda, percebendo que Magnólia já estava deixando suas pétalas caírem na relva de Jasmim, foi logo buscar outra ajuda para socorrer o amor que tinha brotado no bosque encantado.
A Senhora Lavanda se arrumou, toda imponente, foi andando com sua agradável fragrância até a relva de seu amigo Malmequer. Logo chegando, contou-lhe toda a história.
Lavanda perguntou a Malmequer:
– Querido Malmequer, Magnólia é uma flor muito bela, cheia de simpatia, como poderemos deter suas pétalas que estão tentando seduzir o pobre Jasmim?
– Não se preocupe, dona Lavanda.
– Logo, já sei o que fazer para deter a maldade de Magnólia. Vamos procurar Nenúfar, o grande protetor do bosque, a flor de coração puro.
Lavanda e Malmequer foram logo procurar a flor de coração puro da floresta. Nenúfar não morava no bosque. Havia muito tempo que ele tinha se mudado para longe, próximo a um grande rio, preservando seu coração de qualquer maldade.
Depois de andar horas e horas, por entre as pedras, atravessando um imenso rio, Lavanda e Malmequer chegaram a um lugar tranquilo de águas calmas.
Logo avistaram um lindo brilho de um branco sem fim, e no ar, um canto que mais parecia sereias orquestrando.
De passos calmos, começou a aproximar-se de Lavanda e de Malmequer um senhor de pétalas de um branco sem fim. Em sua cabeça tinha um gorro amarelo aveludado que fazia o brilho intensificar-se ainda mais. Suas pétalas já se encontravam um pouco caídas, de caule encurvado. Mas mesmo assim, Nenúfar tinha aparência de um grande imperador que olhava por todos.
Deu mais um passo e disse:
-Bom dia, meus dois bons amigos, em que posso lhes servir?
Malmequer e Lavanda nem acreditavam que haviam achado o grande protetor do bosque. Todas as flores tinham imenso respeito e admiração pelo grande Nenúfar, ele era uma verdadeira lenda. Logo, Lavanda contou-lhe toda a história, junto com seu amigo Malmequer.
Nenúfar ficou preocupado com a maldade que rondava o bosque, e com seu coração puro elaborou um plano.
Disse para Lavanda e Malmequer irem despreocupados, que ele iria enviar ajuda para o bosque. E que nunca mais nenhum mal iria perturbar qualquer flor querida do bosque encantado.
E assim Lavanda e Malmequer voltaram para suas casas, aliviados, pois Magnólia seria contida em sua maldade.
Nenúfar chamou seus amigos duendes e lhes entregou várias sementes. Eram sementes de amor. E os duendes, mais que rapidamente, no silêncio da noite correram apressadamente em direção ao bosque encantado, com seus pacotes cheios de amor e esperança.
Os duendes semearam a noite toda, enquanto as flores dormiam. Logo pela manhã as flores acordaram com vários brotinhos em seu bosque. E as flores foram logo jogando as gotas de orvalho que haviam se formado em suas pétalas na noite anterior, em cima dos brotinhos que estavam nascendo.
Bem próximo ao Jacinto, nasceu Acácia, uma linda flor que quando feita em um lindo buquê se torna uma grande prova de amor. E Jacinto nunca mais ficou triste.
Ao lado da Rosa Azul cheia de mistério, nasceu Cíclame. Este, logo que abriu os olhos, apaixonou-se perdidamente pela Rosa Azul. E ela nunca mais se fechou nas tardes ensolaradas ou desaparecera na noite. Cíclame a amou tanto que não se continha de tantos ciúmes, e a Rosa Azul nunca mais precisou ser misteriosa.
Bem juntinho à prima de Rosa Azul, a sonhadora Tulipa floresceu o Crisântemo Vermelho, e ele, cheio de paixão, todo ardente, foi logo pedindo Tulipa em casamento.
A querida Violeta, leal e bela, não tinha nenhuma gota de orvalho que pudesse dar água a uma sementinha. Mas logo ao seu lado apareceu um dos guardiões da floresta: era o Lírio, todo nobre, que pediu em namoro a leal Violeta.
Lavanda e Malmequer, vendo todo aquele amor no bosque, foram logo contando suas pétalas em bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer. E a última pétala terminou em bem me quer, e um beijo de Lavanda acariciou a pétala de Malmequer.
Magnólia acordou com toda a sua simpatia e percebeu que o bosque estava diferente: todas as flores estavam apaixonadas, repletas de pétalas, exalando cores e fragrâncias maravilhosas. Então, Magnólia foi logo procurar Jasmim, mas quando quis atirar uma pétala em sua relva, foi contida pelo Lótus, que queria proteger o bosque. Lótus era irmão de Lírio e um dos protetores do bosque.
Lotus segurou firmemente a pétala de Magnólia, e lhe disse:
– Magnólia, você que é uma flor tão bela e que irradia simpatia, por que você quer estragar o amor de Jasmim e Margarida?
– Meu querido Lótus, toda essa simpatia que carrego é na verdade solidão, não queria fazer ninguém sofrer, apenas queria uma companhia, um amor que me fizesse feliz.
Lótus ficou tão emocionado que logo abraçou Magnólia. E os dois foram caminhar juntos perto do lago próximo ao bosque, e logo um amor brotou.
Margarida, que acordou por último, foi logo se arrumando, enfeitando-se para ver de longe seu amor Jasmim, pois aquela manhã lhe parecia tão mágica e apaixonada. Margarida foi se aproximando da relva de Jasmim, e para sua surpresa, não notou nenhuma pétala próxima ao seu amor. E então, resolveu se aproximar um pouco mais.
Jasmim, que olhava o dia que surgia, logo viu à sua frente seu amor inocente. Margarida se aproximava como num sonho encantado. Foi tanta a sua surpresa que no seu peito não couberam palavras, mas ele logo lhe disse timidamente um bom dia.
Margarida desprendeu várias pétalas em sua relva, e um sorriso imenso abriu-se em sua face, e ela deixou cair uma lágrima. Jasmim ficou tão impressionado e tão emocionado que não resistiu e foi correndo lhe dar um abraço.
As palavras explodiram em sua garganta, e ele começou a dizer todos os versos de amor existentes para sua amada Margarida.
Jasmim e Margarida se amaram tanto que se tornaram sementes. E toda primavera flores novas florescem no bosque das flores, trazendo sorte, doçura e grande alegria, como forma de agradecimento ao Rei das Flores, cuja bondade contagiou todas elas.
E assim, a cada primavera, novas flores surgiam no bosque encantado… Eram tantas flores… E cada uma carregava um amor… Uma luz, um brilho, uma fragrância, um encanto… E viveram todos felizes para sempre no boque das flores…
E na entrada do bosque ficou apenas Lisianto. Com seu poder, sua imponência, sua glória, em seu pedestal, olhava a todos, protegia toda a beleza contida naquele bosque encantado, cheio de esperança, encantos e amores.
Em cada flor irradiante de um bosque exuberante, esperamos um amor, um encanto, uma semente que nos faça brotar, levantar para a vida, fortes e inocentes para os sentimentos. O bosque das flores narra os conflitos existentes nas relações amorosas. A inveja do amor alheio, a astúcia de criar conflitos, distanciar corações. Mas também mostra o companheirismo, a lealdade, a inocência em se acreditar num grande amor. O bosque das flores é um lugar único repleto de vida.
Essa singela história sintetiza nossa vivência, nossas experiências no convívio com o outro. Na lealdade, fidelidade que podemos adicionar às relações, bastando acreditar, sonhar. E como de uma fragrância única, nossa vida vai tomando cores, simplificando o dia, acreditando em cada amanhecer. A cada nova semente, brotamos como por encanto e nos transformamos.
O PATO E O GALO
O Gato molhou o sapato do Senhor Pato, que ficou todo irritado. E de pé molhado. E todo engasgado, foi procurar o seu Genilvaldo, o galo do seu Geraldo, o dono da fazenda Esperança.
O galo Genivaldo foi logo dizendo:
– Seu Pato, para que ficar todo irritado?
E seu Pato, todo descontrolado, disse para o Senhor Galo:
– Que absurdo! Não respeitam mais um pobre pato velho que nem mais dança ou canta. Meu sapato está todo molhado. Como eu vou visitar minhas queridas patas lá na fazenda do seu Urias Matias? Estou envergonhado!
O galo Genivaldo, todo paciencioso, foi correndo lá no celeiro do burro Tropeço, e pediu suas esporas emprestadas.
-Seu burro Tropeço eu estou precisando de suas esporas de corrida emprestado para o meu amigo pato.
– Ah, meu amigo galo Genivaldo? Eu empresto com todo prazer.
O galo Genivaldo, todo feliz, foi logo entregando as esporas para seu amigo pato.
-Aqui, meu amigo. No meu terreiro só é galo de verdade quem tem boas esporas. Espero que essas esporas sirvam em suas patas e assim você possa visitar suas amigas patas lá na fazenda do seu Urias Matias. E enquanto isso, o seu sapato molhado fica aqui secando em meu terreiro.
– Oh, meu amigo galo, como posso lhe agradecer?
O galo Genivaldo disse:
Meu amigo pato, você me agradece indo passear feliz, sem ficar irritado ou chateado. Por que o dia está lindo, meu amigo de patas molhadas.
E os dois ficaram rindo, rindo… O galo Genivaldo, segurando o sapato molhado do pato. E o pato, calçando as esporas, foi se despedindo e indo em direção à fazenda do seu Urias Matias passar o dia feliz e cantando.
O pato e o galo contam uma história feliz de uma grande amizade: um pato que ficava sempre irritado e seu amigo galo que sempre o acalmava. E no final, o pato acaba se acalmando e até rindo das coisas simples da vida.
O galo, sempre pronto a ajudar, busca ajuda em seu outro amigo, o burro Tropeço. Uma amizade simples, singela, entre um pato e um galo. Mesmo diante de um problema podemos solucioná-lo e dali tirar boas risadas, ainda que seja de um modo bem diferente.
A ABÓBORA QUE CRESCEU GIGANTE
Começou com um pequeno brotinho na horta do vovô Roberto. Junto com o espinafre e os pés de alface, foi crescendo, se enchendo, tomando espaço. Toda formosa, Dona Abóbora ficou famosa. Os vizinhos foram vindos.
Ficavam admirados, e exclamavam: Nossa! Que linda!
Parece que ela crescia ainda mais. Ficava toda inchada, e cheia de curvas se exibia.
O vovô Roberto regava, recolhia os matinhos que surgiam.
O espinafre sentiu ciúme e acabou ficando com as folhas todas duras.
A alface ficou de lado, meio sem graça. Mas Dona Abóbora era solidária e foi se aproximando, puxando conversa. E assim ficaram amigos. O tomate ficou todo vermelho de inveja e também foi se aproximando. A cenoura esticou suas folhas, o repolho soltou um arroto e se aproximou também.
A salsinha e a cebolinha deram um rebolado e se juntaram ao grupo. Formaram um grande piquenique na horta do vovô Roberto. Dona Abóbora, toda em festa e contente, foi a melhor anfitriã daquele quintal de alegria. E assim se tornaram grandes amigos.
Mas um dia chegou uma grande caixa de madeira. O vovô Roberto não estava mais recolhendo os matinhos que surgiam. Agora ele tinha começado a puxar todas as hortaliças para a grande caixa de madeira. Pegou primeiro o espinafre, puxou pelas folhas as cenouras, depois alguns repolhos e todos os tomates maduros.
E no final, arrancou do meio da horta a grande abóbora que cresceu gigante. Todos os que restaram na horta ficaram tristes, e a grande amiga que vivia imponente e cheia de alegria foi embora aceitando seu destino.
No final da tarde, sem água para lhes regar, as hortaliças murcharam, ficando num grande silêncio. O único pé de alface que restou escorou suas folhas no chão agora seco, e um pequeno espinafre que havia caído amoleceu suas folhas num choro sem fim. Os tomates verdes que ficaram começaram a enrugar. Não havia nenhuma grande Abóbora que lhes fizessem companhia.
O quintal do vovô Roberto estava triste, cheio de buracos, o vento que ora vinha para refrescar também desapareceu. A noite caiu, e mais triste sentiam-se todos naquele pedaço de quintal que ficava a grande horta.
De manhã, quando surgia uma ponta do sol, uma folha de alface se levantou, depois um pedaço de espinafre que estava caído se ajeitou: gotas de água os regavam. E junto com as gotinhas de água caíam sementes de abóbora. O vovô Roberto trazia no bolso um saquinho cheio de sementes. E continuou a jogar várias sementes, de cenoura, berinjela, repolhos brancos e roxos. Depois, próximo ao espinafre, plantou agrião para lhe fazer companhia, e do lado do tomate, semeou rabanetes para ficarem todos vermelhos.
E assim foi plantando, semeando amizades. A Dona Abóbora, quando foi embora, aceitou seu destino e o ofertou a todos aqueles que plantavam sementes de boa qualidade, pois muitas grandes abóboras iriam surgir em outros quintais. E o vovô Roberto pode comprar outras sementes de outras qualidades.
E assim, todos os dias, o vovô Roberto vinha logo cedinho regar aquele pedacinho de alegria. E dessa vez muitos brotinhos de abóbora gigante surgiam.
A abóbora que cresceu gigante conta a história de alguém que consegue cativar, espalhar amizade, alegria, e juntar todos os amigos num grande piquenique. Mas, devido ao destino, Dona Abóbora aceita virar sementes mostrando a necessidade de nos desprendermos daquilo de que mais gostamos, das melhoras companhias, para um gesto maior do que nós mesmos. E assim a vida vai florescendo, cheia de novos brotos, novos encantos. E assim deve ser a nossa vida: já nascer e crescer gigante.
A LAGARTA DANÇARINA
Logo que saiu de um ovo no mês de agosto,
A lagarta Gorete começou a se esquivar,
De uma casca depois de outra,
Até sair de seu ovo com o quadril
Balançando, e de repente estava dançando
Sobre o muro, em cima do telhado.
Mas Gorete dançava mesmo quando
Vinha para seu lado um gavião traiçoeiro,
Gorete saía correndo apressada, mexendo,
Esticando suas patas, dançando.
Mas como rebolava Gorete!
Quando o sol esquentava, logo procurava uma sombra,
Ficava em transe, descansando, cochilando, sonhando.
Ah, Gorete, quando ia para a parede do muro de chapisco,
Doía-lhe o solado, pobrezinha dançarina.
Para sobreviver, só dançando em cima do muro de sol quente.
Gorete gostava mesmo era de descer a parede lisa
Da casa de sombrite do velho vovô Otite,
Que jogava resto de comida atrás do muro
Da casa de Gorete. Por isso que ela vivia ali,
Colada no murro da casa do vovô Otite.
Gorete andava todo dia,
Em cima da laje do tio Garcia.
Na venda do seu Urias Malagueta Urgente,
Sobre a guarita do soldado Serpente,
Entre o quintal do seu Arnaldo Escaldado.
Mas certo dia Gorete não rebolou,
Nem dançou. Seu Urias ganhou um cachorro,
Muito bravo que gostava de correr e assustar
Outros animais que passavam próximo ao seu quintal.
Sem perceber, Gorete foi passear na venda
De seu Urias, e de seu balcão surgiu Rodolfo,
O cachorro louco de seu Urias Malagueta.
Pobre Gorete, teve de correr tanto que se esqueceu
De dançar, de rebolar o quadril por entre suas patas.
Nem mesmo sentia o sol ardente, o chapisco do muro quente.
Rodolfo se aproximava e cada vez mais corria Gorete.
Quando ela conseguiu chegar em cima do muro quente,
Foi um alívio, estava salva a pobre Lagarta Gorete dançante.
E nunca mais Gorete foi à venda de seu Urias Malagueta Urgente.
A vida agora era apenas seu muro alto ou a parede do vovô Otite,
Que lhe alimentava todos os dias jogando cascas de batatas,
Miolo de pão embolorado, sementes de abóbora e refogado de alho.
Dançar, só em dia de sol quente em cima do muro, longe do perigo.
O TROFÉU QUE DEIXOU SEU DONO
Matheus era um menino muito alegre,
Esperto, que gostava de jogar bola,
De imitar Bruce Lee, subir nas árvores,
Fazer lutas de macarrão, socar o vento,
Dar saltos mortais, andar de bicicleta.
Um dia Matheus foi competir em seu colégio,
Ganhou um troféu todo dourado de tamanho gigante.
Sua mãe ficou muito feliz, seu filho tinha ganhado,
Era campeão, primeiro lugar na escola.
Chegando em sua casa Matheus foi guardar o seu troféu
No melhor lugar da estante, todo brilhante,
E logo foi correr e imitar Bruce Lee.
Todo suado tirou a blusa e jogou em cima de seu troféu.
E assim ele fazia todos os dias: jogava blusa, tênis,
Deixava resto de biscoitos em cima da estante.
E o seu troféu foi ficando sem brilho, opaco,
Cheio de teias de aranha, e começou a sumir,
Sumir, definhar, até desaparecer por entre os livros.
Certo dia Matheus abriu um livro de esportes
E nele tinha uma linda gravura de um troféu
Que um time de futebol havia ganhado.
Era tão lindo aquele troféu que Matheus
Parecia que já o tinha visto antes.
Mas o que ele não sabia era que o seu troféu
Tinha deixado sua estante e ido embora
Para as páginas de um livro, onde os campeões
Amavam seus troféus e os exibiam para todo mundo ver.
Mateus era um menino muito insensível
Que não percebia os outros, fazia descaso de tudo,
E não ligava para nada. E assim a vitória o foi abandonando.
Matheus começou a perder os campeonatos
E ficava olhando os troféus de longe, todo triste,
Sem mesmo lembrar que um dia teve um troféu gigante
Que brilhava lindamente em sua estante.
Mas agora nenhum troféu o queria.
Matheus não tinha troféu, nem medalha, nem nada,
Apenas pó, teias de aranha e farelo de biscoito em sua estante.
O COZINHEIRO CHEF
Jordi era um cozinheiro de respeito,
Em sua panela inventava, cozinhava
Cozido de batata, assado de lagarto,
Molho de tomate, salada de alface.
Em tudo colocava azeite.
Azeite de oliva
Azeite de dendê
Azeite de girassol
Azeite extra virgem
Jordi também gostava de fritar,
Picar cebola, ralar cenoura,
Desfiar frangos, amassar bolinhos,
Cozinhar arroz, mergulhar coxinhas,
E decorar à mesa.
Distribuir os pratos,
Arrumar os talheres,
Colocar o azeite e enfeitar…
Enfeitava a colher,
Enfeitava o macarrão,
Enfeitava o garfo,
Enfeitava a vida.
Um dia Jordi foi fazer um molho
De tomate doce, e todos gostaram.
E então, resolveu fazer um churrasco
De churros, depois uma salada de goiabada.
Tudo era novo e gostoso.
Nada combinava, mas todo mundo amava.
Em toda panela que Jordi cozinhava havia uma mágica.
Com uma colher de pau ele misturava,
Acrescentava pitadas de sal, de condimentos,
Sementes de alecrim, folhas de hortelã.
Um dia Jordi começou a se transformar:
Primeiro seus pés foram crescendo, enraizando,
Suas pernas começaram a se juntar
E se transformaram em um tronco.
Depois seus braços começaram a se esticar
E algumas folhas foram surgindo…
E depois outros galhos e mais galhos,
E muitas folhas todas verdes.
Jordi tinha se transformado em uma Oliveira,
Em uma árvore da sabedoria,
Admirada pelos gregos,
e de onde se extraía o azeite de Oliva.
Assim Jordi poderia estar em todas as cozinhas
De todo o mundo, em todas as panelas,
Preenchendo a vida, os sabores, todos os gostos.
E um cozinheiro chef surgia em cada cozinha.
O DENTE SORRIDENTE
Cecília tinha um dente que
Balançava, mas não caía,
Ela sacudia, mas ele não cedia,
Dormia e acordava de dia
E seu dente lhe sorria.
Certa vez Cecilia gritou:
– Meu dente está moleeeeee!
Vai e vem, roda, gira,
Em um vaivém que não se aguenta.
Sua mãe armava um barbante,
Sacodia, sacodia, ficava zonza, tonta.
Ficava puxando, empurrando para lá e para cá
Foi então que de repente seu dente
Começou a sorrir, sua boca começou a ficar dormente,
Seus olhinhos foram diminuindo, sumindo…
Acordou e havia algumas moedas ao lado do seu travesseiro,
E o seu dente….
Desapareceu sorridente.
O COPO AMARELO
Maria Eduarda tinha um copo estragado
Que ficou amarelado de tanto ficar de lado,
Sem graça, apagado de tanto ficar jogado.
Certo dia Amarelo desapareceu.
Esqueceu-se de Maria Eduarda,
Que tinha deixado seu coração magoado.
Sem saber aonde ir, Amarelo ficou sem graça,
Sem nenhuma palhaçada, sumiu do mapa…
A Maria Eduarda já não bebia nada,
Estava enjoada, sem copo, sem colo,
Sem tempero, sem brinquedo…
– Ah, que mundo cruel, EU quero meu copo Amarelo!
Sem graça, estragado, meu dia está arruinado!
Pobre Maria Eduarda, seu copo Amarelo
Havia sumido, mas ela nem desconfiava
Que tinha mesmo era sido abandonada
Pelo seu copo Amarelo todo belo…
Mas Amarelo começou a ficar esverdeado,
Esbranquiçado, todo ouriçado, e lá no fundo do seu desabafo,
Gritava por um pouco de espaço. Maria Eduarda
Não tomava nada, nenhum líquido, nem leite,
Nem refresco, nem água, nem nada.
Mas mesmo assim ele queria que Maria Eduarda
Ficasse apertando, jogando, enchendo de pedra,
de areia de fazer castelo, escavando tesouros.
– Nem me importo se vou carregar suco!
Ou mesmo cascalho! Eu quero é que Eduarda brinque comigo.
E assim o copo Amarelo voltou para casa.
Maria Eduarda já estava pálida, desidratada.
Quando no meio da sala apareceu seu copo
Amarelo, estava todo alegre…
Maria Eduarda correu pela sala e pegou seu copo,
Abraçou, beijou, tomou vários sucos de pera, melão, cereja
Abacaxi, saci, mucuri, de laranja, sem doce
De jabuticaba aguada gelada.
E outros sucos de manga comprida,
Curta, meia estação, japonesa.
Mas ainda tinha muita sede, queria engolir, sacudir,
Pediu vitamina de banana, azul, rosa, verde abacate,
Vermelha de morango, roxa, lilás, cinza,
Pintada, amarga, doce: eram tantos sabores,
Tudo dentro de seu copo Amarelo, seu grande amigo
Que lhe trazia todos os dias um gosto diferente.
E então, nunca mais Maria Eduarda abandonou Amarelo,
Agora carregava seu amigo para a escola, para o recreio,
No aniversário de suas amigas, no parque da praça
E o copo Amarelo nunca mais fugiu ou sumiu….
UMA TARDE CHUVOSA
Disse a mãe da Cecília que o sol logo se abriria depois da chuva.
Mas a tarde passou e o dia ficou todo molhado para a Cecília.
Sua mãe fez pudim, pipoca de amendoim, suco de gergelim.
Sem sol, Cecília não se aguentava, subia as escadas,
Jogava jogos, coloria jardins que poucos conheciam.
Cecília amolava, cantava, ensaiava passos, conversava
Com seu vizinho de ombro que nunca ninguém via.
Sem sol no dia, Cecília espichava o dia, sua mãe sorria.
Linda menina, linda filha que animava as horas.
De tanto amor começou a crescer, o cabelo ficava solto.
Começou a compreender os motivos dos castigos,
Por vezes até argumentava, já estava esperta.
No outro dia o Sol surgia e Cecilia sumia no quintal da casa,
Corria pela grama, tentava pegar o gato que vivia assustado.
A vida é feita de sol e chuva, de um amor infinito que contagia.
Na chuva que molha, a alma e o sol vêm aquecer o que é mais sincero:
O amor de uma mãe por sua filha, ao amor tudo.
INFÂNCIA
Quando criança, não pensava como seria nossa vida de adultos,
Nem sabia que tínhamos que ter responsabilidades.
Gostava de correr, subir em galhos, nem mesmo lápis eu pegava.
Não sabia que a vida era de leitura, de horas e trânsitos.
Criança não sabe o que é fila, desamores, olhares perturbados.
Infância…
Só depois de adultos compreendemos…
As novelas nem mais amortecem a alma.
No olhar distante procuramos algo que nos foi tirado.
Compreendemos a ausência…
Mas não percebemos o vazio aumentando, consumindo…
Quando desiquilibramos e sentimos nosso corpo machucado
É que percebemos o nosso humano fragmentado.
Na correria só mesmo a infância para não esquecermos
De nossa humanidade.
ROSICLÉIA E A ESCOLA
Lá vai Rosicléia, uma menina esperta. Cheia de espinha, de canela fina, mas nem liga. Seu sapato tem um buraco bem na ponta mostrando a meia. Mas que beleza. Quando corre seu pé fica todo fresco.
Está na segunda série decorando a tabuada. Coisa de gente grande. Sua mãe disse que isso garante o futuro. Estuda, lê, escreve e não aprende. A letra sai torta. Tremendo de frio. Estica o A e encolhe o L. Entorta o R e não se acerta.
Rosicléia, que lereia. Credo! Que dificuldade! Ah, mas como ela é feliz!
Adora ir à escola. Não aprende. Mas, também não esquenta. Na hora do recreio, brinca. Sorri. Corre. Pula corda. E depois as letras. O caderno amassado. E em sua mesa, cascas de lápis, pedaços de borracha. De novo está lá escrevendo. Coloca força no lápis. Os dedos até doem. Ai que dificuldade.
A professora não espera, logo apaga o quadro. E Rosicléia começa a chorar. Sua amiguinha empresta o caderno. E então, completa a história.
A escola é tudo. Rosicléia é feliz. Esse ano não teve jeito: Rosicléia ficou de boletim vermelho. Que tristeza! Vai ter que repetir o ano. Tudo de novo.
Sua mãe ficou brava. Só agora que ela entendeu porque estava tudo colorido em seu boletim. Achava que era bom. O boletim de seus coleguinhas eram todos azuis. Mas só o dela continha duas cores: azul e vermelho. Mas quando chegou em casa é que foi entender o motivo das cores. Não foi suficiente.
Não aprendeu tudo que a escola tinha para lhe ensinar. Rosicléia ficou um pouco triste, mas não importava, ia aprender tudo de novo.
Mas, o que seus colegas não sabiam é que ela era mesmo feliz. Depois da escola brincava de pega-pega, de subir nas árvores, pular elástico. E depois dormia e sonhava. E assim Rosicléia foi indo…
Mas quando chegou ao sexto ano apareceu um monte de professoras novas. E uma delas carregava livros e começou a ler em sala de aula. Todos os dias ela lia um pouquinho. Eram livros fantásticos, cheios de aventuras. Depois ensinava como se escrevia um verso. Uma poesia. E depois lia um conto. Lia o mundo. Lia tudo.
Rosicléia ficou amiga da literatura. De autores de grandes imaginações.
Cresceu… E começou a escrever. Escrevia tanto. Parecia que era a dona das letras. Da imaginação. Criava mundos fantásticos. Dava nome para bichos, baratas, girafas, galinhas. Patos e burros faziam amizades em suas histórias.
Quanta imaginação. Rosicléia começou a usar óculos de um tamanho assustado. Comprou sandálias de couro. Começou a prender o cabelo e a carregar canetas, lápis, papéis. Depois começou a carregar em seu bolso ilustrações muito coloridas, de vermelho, azul. O bolso ficava cheio de anotações ao lado. Rosicléia era feliz. Quando criança, pulou, quando adulta, ficou sonhando.
E depois que começou a ficar velhinha, Rosicléia ficou mais amada. E de velhinha começou a correr. Corria todo dia um pouquinho, pelo quarteirão, em volta da praça. E depois que chegava em sua casa, praticava corrida de longa distância, pegava o lápis e disparava. Nossa! Uma história, outra, uma pulga, uma abelha, um caracol. Depois aparecia uma floresta, um monstro, um pijama e depois uma ilustração.
E então, fechava o seu quarto para ninguém entrar. E começava a aparecer um monte de personagens. Dava até medo. Credo! Tinha feras de todos os tipos. Hipopótamos de boca aberta. Jacarés de asas. Elefantes em cima de árvores.
Mas ela era amiga de todos. Não tinha perigo.
Rosicléia era uma infância que ninguém sonhava. Tinha vivido correndo pelo pasto. Subindo em pés de condes. Tomando banho em rios. Chupando manga madura. Pisando em abelhas e ficando com o pé todo roxo.
E assim foi crescendo. Envelhecendo. E entrando nas páginas dos livros. Sempre perseguindo as letras que na sua infância escrevera com tanta força. Agora elas ficavam voando sobre as páginas. Pois o lápis da Rosicleia mais parecia uma raquete que arremessava as letras, formando palavras emendadas e cheias de risadas.
Assim foi Rosicléia indo à escola. Repetindo o ano. De caderno amassado. Com a mesa cheia de casca de lápis. Domou as letras. Capturou a imaginação. E soltou, nas páginas de seus livros, histórias felizes iguais a ela.
O gatO mInúsculO
(Participação especial de minha filha Cecília R. de C. M. B.)
Numa linda manhã de primavera, Paula foi andar de bicicleta em frente a sua casa. E sem querer ela atropelou um pequenino gatO. Mas ele era tão pequeno que nem se machucou. Paula ficou com dó dele. Ela o adotou, deu banho, comida, um nome e todo o carinho e amor do mundo.
Ele era tão pequenino que cabia na palma de sua mão.
O coitadinho estava totalmente sujo e ferido. Ela pegou o pequenino, limpou, cuidou e deu remedinho para suas feridas. E depois pegou as roupas de suas bonecas e vestiu o gatinho, que ficou lindinho.
Ela estava em dúvida qual seria o nome do gatinho, mas depois ela decidiu que seria mInúsculO, porque ele era muito pequeno. Depois disso ela mostrou o gato para suas amigas da escola. E elas adoraram o gatinho e queriam ele só para elas.
E diziam assim para a Paula:
– Me dá ele, por favor!
– Não! Você já pegou!
– É a minha vez.
E logo, começou um alvoroço.
Mas então, Paula logo escondeu o gatinho e saiu correndo antes que elas começassem a brigar. Chegando em sua casa foi dar um banho no gatinho mInúsculO para irem passear.
E de repente, quando estava passeando de bicicleta, ela viu os pais do gatinho. Ela não queria devolver o filhote. Mas não tinha escolha. E ela sabia que era errado.
E então, ela devolveu o filhote para os pais e voltou para sua casa feliz para sempre.
TERRA DO MILHO
Era uma vez um lindo lugar chamado Colmeia, que vivia cheio de abelhas e flores de todas as cores. E neste lugar existia uma linda cidade chamada Milharal, com seus moradores afetuosos e alegres. E uma vez por ano acontecia uma grande festa para comemorarem suas colheitas.
Os habitantes de Milharal, porém, queriam que sua cidadezinha brilhasse ainda mais com seus milhos dourados. E então, escolheram uma linda representante para Milharal. Seu nome era Bia, e assim ela começou.
Arrumou as escolas das flores, a cidade administrativa da Colmeia. Organizou as mais lindas festas. E depois foi organizar as fileiras da cidade do milharal. Começou a criar viadutos, avenidas largas, canalizou o pequeno córrego que percorria Milharal.
A linda Bia tudo arrumava e consertava. Porém, existiam os velhos conselheiros da cidade que nada gostaram de ver as flores e os milhos brotarem com mais encanto. E então, no meio da noite, à surdina, os ratos gordos se reuniram para aumentar seus grãos e suas colmeias.
Bia não desistia e a cada dia trabalhava ainda mais, sem correrias, sem promessas falsas. Fazia tudo certo, com muito carinho e dedicação. Mas os ratos continuavam a roer suas lindas obras. Porém, havia um rato traiçoeiro que se chamava Peso Roedor, que morava no conselho da assembleia, a vinte e quatro anos, trabalhando na surdina, roendo milharais e compondo músicas ao luar.
Peso Roedor conseguiu reunir os ratos mais gordos do conselho em seu apoio e projeto. No final da primavera elegeu-se para governar Milharal, dizendo:
– Milharal tem pressa!
Todos tinham pressa. Os ratos tinham pressa.
Milharal tem pressa, e isso é o que interessa!
Bradava a todos os cantos, como se Peso Roedor fosse um valente construtor. Mentiras! Promessas!
Queria achar diamantes igual ao seu pai, nem que fosse preciso encher de buracos e esvaziar o lago da cidade. Mas ficaria rico e gordo.
Escolheu o melhor rato contador para governar ao seu lado. Ele processou todos os construtores e construtoras, agricultores e comerciantes. Insultando, processando, roendo licitações, tramando traições, juntou perto de si muitos vilões que não se preocupavam com Milharal, mas apenas com os grãos que podiam carregar.
Paralisou a escola superior do Milharal, UFPM, para que ninguém se formasse. Cortou o salário das abelhas educadoras.
Foi eleito com glória sem nenhuma glória. E no mesmo ano diminuíram-se os milhos e murcharam-se todas as flores. As colmeias pararam de produzir seu delicioso mel. E os brilhos dos milhos verdejantes acabaram se amarelando com o abandono da cidade administrativa. Nem mesmo água existia mais para seus funcionários. O rato prefeito morava no escritório e recebia apenas seus convidados, deixando a população abelha no abandono.
Peso Roedor morava na cidade administrativa, começava a trabalhar às seis horas da manhã, processando todos e andando com pilhas de papéis cheios de processos. Cada abelha que começava a trabalhar um pouco mais que as outras ele processava.
– Tudo legal – ele dizia. – Legal, legalidade, honestidade, eu sou honesto, sou correto!
Roendo queijo, roía milho, ruía vidas, dignidades, colocando os trabalhadores públicos como vilões do reino.
E a cidade em ruínas via ruírem suas ruas, seus milhos, sua festa popular, suas flores, seu parque tão amado.
As abelhas trabalhadoras da cidade ficaram sem salário. O carnaval foi decretado e o caminhão de lixo foi cortado. Todas as ruas tinham lixo, buracos e tristeza de uma cidade desiludida e enganada pelo filho de garimpeiro eleito em peso, pesando sobre a cidade.
E o pequeno rio que passava ao lado do milharal começou a sofrer assoreamento, com o lixo depositado, o mato crescendo, no abandono, e sem nenhuma pressa de Peso Roedor em resolver. E as máquinas ficaram paradas e os moradores de Milharal agonizavam. A fileira de milhos do Senhor Ápis ficou totalmente abandonada, em meio à poeira, e as abelhas adoecendo, em épocas de chuvas, lamas e lágrimas. E o novo hospital que tinha sido inaugurado no passado pela abelha Bia foi fechado, e seus equipamentos abandonados.
Peso Roedor tinha prometido uma fábrica de colmeias para dar empregos para suas abelhinhas. A fábrica era a Mel Alimentos, mas ninguém veio. Ele falou também:
-Ticket para todas as abelhas estudarem nas escolas Colmeia. Água de graça para as abelhinhas. Enxovais para as mamães abelhas.
Mas o que ele fez? Roeu!
O Rato do bairro da Graça não tinha pressa, roía devagar, calmamente. Era filho de um rato que vivia procurando pedras entre milhos para se enriquecer, sem trabalhar. Roedor só queria mesmo se engrandecer, perseguia quem ele não via cumprimentá-lo. Ele roía as mesas das pequenas secretárias abelhinhas, as servidoras da Colmeia. Aumentou a jornada de trabalho do reino administrativo.
No final de outubro todos os moradores da cidade Milharal, município de Colmeia, estavam muito tristes e arrependidos. Não tinha mais mel, as colmeias estavam sem operários, sem máquinas, tudo paralisado.
Milharal estava triste e começou a pensar nos dias alegres e produtivos do governo de Bia. Mas ela não tinha abandonado suas abelhas, nem as plantações. Bia tinha se candidatado ao cargo de representante do município da Colmeia para ajudar todos os moradores de Milharal. E Peso Roedor começou a sumir, sumir…
E todas as abelhas agora começaram a ter esperanças. O brilho novamente começava a surgir. Bia seria de novo sua represente, além de outras colmeias. E seus moradores nunca mais lembrariam que um dia tiveram um rato roedor em suas vidas em sua cidade tão querida.
Milharal produzia a cada dia mais milhos e mel.
E Bia brilhava!
Fim.
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