Um rosto branco e frio

Um rosto branco e frio (Primavera De Oliveira)

Um rosto sobre a noite dormente e pálida. Um rosto fino, branco e solitário caminhando sobre o vento. As sombras desertas mostravam a face perdida e gélida de um mês ausente na imensidão humana. Os lamentos eram colocados na estrada deserta, entre pedregulhos e lampejos de sombras delicadas.

Era início de dezembro e o frio cortava a carne deixando o rosto gélido e pálido. A estrada deserta e suntuosa mostrava seu rosto singelo e calmo. O ruído do silêncio em névoas, salpicavam a alma ingrata, fétida e monstruosa. A soberba em passos delicados. O horror em pensamentos delirantes. A solidão arranhando a carne. O paletó negro cobria o coração amaldiçoado.  A mente acompanhava as linhas de transmissão com seus postes esguios traçando o caminho solitário.

Naquele ano o coração dele ficou mais perto da solidão. O amor insano e suas lembranças desprezíveis. Ela era bela e insinuante.  Os cabelos ligeiramente ondulados em olhos negros. A silhueta perfeita composta de um sorriso singelo e decadente. Morava no final da rua, próximo ao cemitério dos esquecidos. O vento levava os corpos vazios para aquele lado da cidade. A noite dava suas labaredas de incerteza. Pensamentos infinitos moravam no seu ser.

Os lábios quentes e afetuosos arruinavam sua alma. A incerteza da solidão e o desprezo amável torturavam seus lindos dias. Os olhos transmitiam a mais profunda beleza. A aparência da alma verdadeira e seus deuses eloquentes. Ah, o vento soprava em labaredas, pesando sobre os ombros a frieza da noite deserta e estéril. Os pés adormecidos pelo vento, as pedras desenhadas no caminho. O sentimento era que a noite tinha sido congelada. O tempo parado em um silêncio ensurdecedor.

As lembranças. O beijo maldito. Os dedos percorrendo a pele branca e fria. O rosto desenhava sua solidão. O amor tinha consumido todos os seus pertences.

As linhas desenhavam a estrada e os galhos estendidos pelo caminho, dançavam junto com o vento. A orquestrada era envolvente. A imagem do seu corpo despido sobre o luar contaminava a sua alma ruidosa. Seus olhos seguiam em febre e delírios.

Mas não poderia recusar o convite desenhado sobre o pedaço de papel posto sobre a mesa. O licor doce e suave, exalava sua sexualidade. O devaneio horas cometidas sobre os lençóis. O gosto delicado e amargo sobre a taça do hotel onde se encontravam há muito tinha sido esquecido. O retorno ao amor barato e desejado.

O tempo foi fiel ao desprezo. A estrada era o caminho certo de sua loucura e demência. As alucinações do passado retornaram com muita intensidade sobre sua fronte. Os ruídos iam ficando distantes, apenas o barulho de seu sapato deslizando sobre a estrada de terra batida com suas pedras enfileiradas. Os passos cada vez mais devagar, sentindo a lucidez da noite. A escuridão dos desejos desfeitos. O vento acompanhando os pensamentos, os murmúrios produzidos pelos lampejos da noite. A solidão e o silêncio em perfeita harmonia, conduzia seu corpo magro e altivo.

A caminhada conduzia ao pecado devastador e suave que sua alma tanto desejava. O frio batia em seu rosto gélido e pálido. A noite conduzia o corpo esguio e altivo para os mais lindos tormentos desejados. A luz refletida no final da estrada, mostrava a casa da mulher amada. O coração em febre e as mãos frias salpicavam lembranças. O vento arrastava seu corpo desmembrado em pensamentos. As malditas lembranças agora chicoteavam o corpo ressequido.

            O olhar ficou imerso sobre a luz refletiva na última janela. Um vulto passava despercebido em uma silhueta perfeita. O vento trazia o cheiro do passado frio e desvanecido. O corpo esguio, frio e sereno, contemplava aquele instante ameno. Uma paz imensa tocou sua carne. Talvez, pudesse viver aquele instante numa breve eternidade.

            O vento batia em seu corpo trazendo nuvens de tempestades. As lembranças começaram a percorrer suas entranhas. A cabeça estava dormente suas mãos frias riscava um fósforo e depois sendo jogado sobre alguns gravetos. O vento soprava suavemente suas labaredas. A noite contemplava as chamas ardentes. O rosto branco e frio pode finalmente sentir um pouco de calor.

            E o corpo esguio, frio, virou para as labaredas, voltando tranquilamente pela estrada solitária. E antes de atravessa-la o rosto branco, frio, olhou calmamente seu caminho, com as mãos ligeiramente inclinadas pode sentir o vento levando todos os tormentos humanos. E sobre as linhas definidas, a vida continuou a balançar, por um momento a face ficou parada refletindo a palidez da noite serena. E uma paz imensa tocou seu rosto branco e frio.

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2 comentários

    1. Serena De Primavera disse:

      Thanks.

      Curtido por 1 pessoa

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