Primeiro Instante

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Primeiro Instante

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Primeiro instante

Ela não ousou abrir a carta. Nem o coração. Nem o pulmão ou a glote.  Deixou as pernas cruzadas em ligeiro desinteresse. Queria apenas o gosto amargado do final de um relacionamento. Sem cartas ou poemas. Correu para os braços do outro. Despiu cada parte de seu corpo voluntariamente, amou cada minuto da noite. E no início da madrugada olhou o vazio. O sol renascia e novamente amou.

O corpo já não mais correspondia. Tudo estava em transe. Sem sede ou fome, apenas o formigamento da perda dos sentidos. E na calmaria dos sentidos tocou sua pele, percorreu cada pedacinho de seu corpo e respirou sua mente. O corpo impregnado de tanta devassidão e a alma serena, buscou narrativas para o próximo encontro.

Mas, no final apenas a brisa tocava seus sentidos. E ele vestiu sua roupa, seus sapatos, prendeu seu relógio, beijou sua face. O portão fez um pequeno ruído. E agora suas mãos desvendava a única lembrança restante. E então, ela não ousou abrir a carta. (Primavera De Oliveira)

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